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Leitura Alheia: 1984

por Magda L Pais, em 19.11.18

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1984 de George Orwell 

Sinopse

Curioso percurso, o desta alegoria inventada para criticar o estalinismo e invocada ao longo de décadas pelos ideólogos democráticos, e que oferece agora uma descrição quase realista do vastíssimo sistema de fiscalização em que passaram a assentar as democracias capitalistas.

A electrónica permite, pela primeira vez na história da humanidade, reunir nos mesmos instrumentos e nos mesmos gestos o trabalho e a fiscalização exercida sobre o trabalhador. Como se não bastasse, a electrónica permite, e também sem precedentes, que instrumentos destinados ao trabalho e à vigilância sejam igualmente usados nos ócios. É graças à unificação de todos os aspectos da vida numa tecnologia integrada que a democracia capitalista pode realizar na prática as suas virtualidades totalitárias. O Big Brother já não é uma figura de estilo – converteu-se numa vulgaridade quotidiana.

A opinião d’a Vilã

Agradeço à Magda o convite para participar nas “Leituras Alheias” e, assim, poder partilhar a minha opinião sobre um livro que considero brilhante. Este foi um ano dedicado aos clássicos e, pelo caminho, encontrei aquele que se tornou um dos meus livros preferidos: 1984, de George Orwell.

Apesar de ter sido editado em 1949, não podia ser mais actual. É um livro visionário e, mais do que isso, levanta questões que estão hoje a ser debatidas e pensadas sobre a sociedade e o seu futuro.

Orwell não criou apenas uma sociedade distópica, mas todo um imaginário e uma estética, que, pela sua riqueza, deram origem ao adjectivo orwelliano. E isso, são poucos os autores que conseguem.

No livro, acompanhamos a história de Winston Smith, um cidadão anónimo que é diferente da maioria, no sentido em que é capaz de questionar a sociedade e tem a coragem de enfrentar um sistema com o qual não concorda, mesmo sabendo que tem todas as probabilidades de sair derrotado.

Será que é possível ser diferente numa sociedade onde tudo é controlado e vigiado, inclusive o próprio pensamento?

Será que é possível a revolta contra uma sociedade que proíbe o conhecimento e fomenta a ignorância?

Na sociedade totalitária de 1984, a maior arma é a manipulação do pensamento, a utilização da propaganda para controlar a realidade. O passado é alterado para criar a verdade em que as pessoas são levadas a acreditar.

E se toda a gente aceitasse a mentira (...) – se todos os documentos apresentassem a mesma versão – , então a mentira passaria à História e tornar-se-ia verdade. Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente controla o passado.

E, para que tudo isto resulte, é preciso evitar o acesso ao conhecimento que possa levar a questionar o poder instalado. A ignorância é outra arma essencial na sociedade do Big Brother. Por isso, é preciso proibir o acesso aos livros e à educação e manter a pobreza e a desigualdade.

A ortodoxia significa ausência de pensamento, ausência da necessidade de pensar. A ortodoxia é inconsciência

Aqui, até a própria língua é utilizada como arma para controlar a liberdade de pensamento. Orwell criou o conceito de novilíngua, onde as palavras são alteradas, manipuladas e suprimidas com o objectivo de impedir que o pensamento vá além do que é pretendido, com base no princípio de que não é possível pensar se não existirem palavras que o permitam. É muito interessante e dá que pensar esta relação entre a linguagem e o pensamento.

Ano após ano, cada vez menos palavras, e o alcance da consciência cada vez mais limitado.

Falta referir o medo como a derradeira arma, que permite manter a população em modo de sobrevivência. É preciso que o mundo esteja em guerra permanente, mesmo que fictícia, e que o outro seja encarado como o inimigo que é preciso odiar. O contacto com estrangeiros é proibido para que não se perceba que são seres humanos semelhantes a nós. O mundo deve manter-se o mais fechado possível para manter vivo o medo, o ódio e o fanatismo contra o outro.

Pouco importa que essa guerra esteja ou não realmente em curso e, dado ser impossível qualquer triunfo decisivo, tão pouco importa que ela corra bem ou mal. Basta que o estado de guerra exista.

É tudo isto que Winston Smith tem que enfrentar para manter a sua existência enquanto ser humano que quer ser livre no pensamento. Mas, será que depois de nos tirarem tudo, essa possibilidade existe? Isso ficará ao critério de cada um depois de ler o livro.

Depois de ler 1984, é impossível não pensar ao que assistimos hoje com a propagação das fake news, a relativização da verdade, a revolução tecnológica associada à manipulação da vontade e à ilusão da privacidade.

Para mim, mais importante do que ser uma obra visionária, é a possibilidade que nos dá para pensar o presente e prevenir que o futuro siga por caminhos pouco recomendáveis. É por isso que 1984 deve continuar a ser lido e relido. E também porque é um livro genial.

Leia aqui as primeiras páginas

Classificação:  (porque não podem ser 6)

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1984

por Magda L Pais, em 26.12.16

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1984 de George Orwell

Publicado em 1949

Releitura em 2015

 

Sinopse

1984 oferece hoje uma descrição quase realista do vastíssimo sistema de fiscalização em que passaram a assentar as democracias capitalistas. A electrónica permite, pela primeira vez na história da humanidade, reunir nos mesmos instrumentos e nos mesmos gestos o trabalho e a fiscalização exercida sobre o trabalhador. O Big Brother já não é uma figura de estilo - converteu-se numa vulgaridade quotidiana.

 

A minha opinião

Distopias clássicas, a minha escolha de (re)leitura desta semana de férias que passou. Comecei com Admirável Mundo Novo, publicado em 1932, seguiu-se Fahrenheit 451, publicado em 1953 e agora 1984, publicado em 1949.

Estamos em Londres e presume-se que no ano de 1984. O planeta estará, aparentemente, dividido em três estados – Oceânia (onde se inclui a cidade de Londres), Eurásia e Lestásia. Presume-se o ano e a divisão do planeta porque o Grande Irmão, líder do partido que está no poder, e que controla tudo, não deixa que se saiba mais do que o indispensável. O passado, que, por definição, é inalterável, em 1984 é manipulado a belo prazer do partido e do Grande Irmão (Big Brother). Onde quer se se esteja, os teleecráns e os microfones acompanham tudo e tudo transmitem à polícia do pensamento. Vive-se numa sociedade em que pensar é crime. É, aliás, o quase que o único crime passível de ser cometido. Vive-se (ou sobrevive-se?) numa sociedade em que, a partir dos cinco, seis anos de idade, as crianças são incentivadas a denunciar os seus pais como criminosos para que possam ficar sozinhas. Os criminosos são vaporizados e tornam-se impessoas – todas as suas referências (nomes, moradas, menções em revistas ou listas de trabalhadores) são apagadas e é como se nunca tivessem existido.

Winston é funcionário do Ministério da Verdade da Oceânia, cabendo-lhe alterar as revistas do passado para que se mantenham coincidentes com a verdade de hoje. Winston é um inconformado, não aceitando a indiferença dos seus pares nem o regime totalitário onde vive. Aos poucos, incentivado por O’Brien e pelo seu amor a Júlia, vai tentando rebelar-se contra o Partido e o Big Brother sem perceber que é o próprio partido que incentiva as rebeliões de modo a poder vergar os poucos que pensam. Winston acaba por descobrir que, na Sala 101, todos se acabam por vergar – mesmo os que acreditam ser fortes.

Intenso, profundo e preocupante ao mesmo tempo, 1984 é um livro que assusta. Que nos fazer pensar no futuro, na sociedade para onde poderemos estar a caminhar.



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