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No Limiar da Eternidade de Ken Follett
Trilogia O Século - Livro 3
Editor: Editorial Presença
ISBN: 9789722353717
Lido em 2014
Sinopse
Enquanto as decisões tomadas nos corredores do poder ameaçam extremar os antagonismos e originar uma guerra nuclear, as cinco famílias de diferentes nacionalidades que têm estado no centro desta trilogia O Século voltam a entrecruzar-se numa inesquecível narrativa de paixões e conflitos durante a Guerra Fria.
Quando Rebecca Hoffmann, uma professora que vive na Alemanha de Leste, descobre que anda a ser seguida pela polícia secreta, conclui que toda a sua vida é uma mentira. O seu irmão mais novo, Walli, entretanto, anseia por conseguir transpor o Muro de Berlim e ir para Londres, uma cidade onde uma nova vaga de bandas musicais está a contagiar as novas gerações. Nos Estados Unidos, Georges Jakes, um jovem advogado da administração Kennedy, é um activo defensor do movimento dos Direitos Civis, tal como a jovem por quem está apaixonado, Verena, que colabora com Martin Luther King. Juntos partem de Washington num autocarro em direcção ao Sul, numa arriscada viagem de protesto contra a discriminação racial. Na Rússia, a activista Tania Dvornik escapa milagrosamente à prisão por distribuir um jornal ilegal. Enquanto estas arriscadas acções decorrem, o irmão, Dimka Dvornik, torna-se uma figura em ascensão no seio do Partido Comunista, no Kremlin.
Nesta saga empolgante que agora se conclui, Ken Follett conduz-nos, em No Limiar da Eternidade, através de um mundo que pensávamos conhecer, mas que agora nunca mais nos parecerá o mesmo.
A minha opinião
Numa nota da Editorial Presença sobre este livro pode-se ler
Começa em 1961, com a construção do Muro de Berlim, já em plena Guerra Fria. As personagens estão de alguma forma envolvidas na Crise dos Mísseis de Cuba, na luta pelos direitos civis, nos assassinatos do presidente Kennedy e do seu irmão Robert e de Martin Luther King. A partir dos anos 60 assistem ao nascimento da música pop e à difusão do rock. Um volume final que termina com a queda do Muro de Berlim.
Na realidade, o epilogo deste livro é o dia da tomada de posse do primeiro mandato do presidente Barack Obama, o primeiro negro a ser eleito para presidente dos Estados Unidos da América.
1024 páginas separam a construção do muro de Berlim, a que assistimos pela voz de Rebbeca, a terceira geração da família Von Ulrich na Alemanha e a luta pelos direitos civis no estados Unidos, na década de 60 e a eleição de Obama, em 2008.
São 1024 páginas que nos ajudam a compreender (mas não a aceitar) a crise dos mísseis em Cuba, a guerra fria, a construção do muro de Berlim, o nascimento da União Soviética, a luta dos negros pelos seus direitos, o nascimento do movimento Hippie, a ascensão e queda de Nixon e o efeito dominó que teve o fim do comunismo na Rússia.
Pelas mãos da terceira geração das famílias que conhecemos no primeiro volume, estamos nos locais onde as décadas de 60, 70 e 80 aconteceram. Conhecemos Kennedy pela voz de uma das muitas amantes que teve, Martim Luther King por uma das suas assistentes, Gorbachov pelo seu secretário. O nascimento do Solidariedade, a Polónia e a ascensão dum electricista sem formação – Lech Walesa – a primeiro-ministro é outro dos temas tratados neste livro.
As últimas páginas antes do epílogo passam-se no dia 9 de Novembro de 1989. Depois da dissolução do Bloco de Leste, e com a realização de eleições livres em vários dos países que constituíam esse bloco, Berlim de Leste é o último reduto comunista fora da URSS. Depois de semanas de contestação e de manifestações contra a Stasi e o regime, o governo anuncia, nesse dia, que todos os cidadãos da RDA poderiam visitar a Alemanha Ocidental e Berlim Ocidental. Rebecca e Walli estão em Berlim Ocidental e os pais, Carla e Wenner, em Berlim de Leste.
Após esse anúncio, milhares de alemães orientais dirigiram-se ao muro. Dum lado, os berlinenses fartos da Stasi e da opressão comunista gritam “deixem-nos passar” e do outro, os berlinenses ocidentais gritam “venham”. Sem a oposição da polícia, já enfraquecida, os alemães orientais começam a subir o muro enquanto são aplaudidos e incentivados pelos alemães ocidentais. Finalmente termina esta aberração que foi o muro de Berlim, juntam-se famílias, amigos e desconhecidos numa atmosfera de celebração que contagia quem está, deste lado, a ler – da mesma forma como fui contagiada com as imagens, nessa noite, há quase 25 anos. Confesso (não digam a ninguém) que me vieram as lágrimas aos olhos ao relembrar as imagens da televisão.
Ken Follet é, sem sombra de dúvida, o meu escritor favorito. Mas nessa trilogia supera-se a si próprio. Ao interligar situações/personagens reais com situações/personagens fictícias, consegue que o leitor, apesar de saber como terminam as situações reais, sofra com as personagens fictícias. Foi, sem dúvida, um projecto ambicioso do autor, o de retratar o século XX, século em que aconteceram tantas, mas tantas coisas, que alteraram o curso da humanidade para sempre. Duas guerras mundiais, a guerra fria, os direitos civis… coube tanta coisa nas 2784 páginas que compõem esta trilogia que só um autor com a excelência de Ken Follet nos poderia trazer um romance histórico com esta qualidade. São 2784 páginas divididas em três volumes que nos deixam um vazio grande quando acabam. Que nos ensinam mais história da actualidade que muitos manuais escolares – mais uma vez, e como disse aqui na crítica ao primeiro volume, o autor teve a preocupação de não deturpar os acontecimentos reais e de, nas situações fictícias, não colocar as personagens reais sem ter a certeza que podia ter sido assim.
Quando fechei este último livro, fechei também a leitura por dois ou três dias. É o tempo que prevejo que vou precisar para fazer o luto desta trilogia. A qualidade do que li não pode, não deve, ser manchada por outros livros. Tenho de digerir bem e que abrir a mente para o próximo.
Mais tarde, daqui a uns dois ou três anos, quero voltar a ler estes livros. E isso, a releitura, está guardada para os melhores entre os melhores – que é onde esta trilogia se encontra.
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