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Lobo Solitário de Jodi Picoult
Cenário: casa da sogra a 193 km da minha casa. Sábado de aleluia, 20h. Aproxima-se, a passos largos, a última página de Mais Maldito Karma e não tenho mais nenhum livro para ler. Na sexta à tardinha, quando saímos de viagem, estava a ler Wilt e, erradamente, achei que um livro para acabar e outro para ler seriam suficientes para o fim de semana alargado. Não foram! Instalou-se o pânico - e agora? que faço eu? como é que cheguei a esta situação? ainda para mais porque, nessa tarde, tinha estado com um livro nas mãos quando fui às compras no Modelo (não conta o facto de ter ido a Badajoz de manhã e ter ouvido um sussurro atrás de mim a dizer: ainda bem que estão em espanhol...).
Nessa noite foi a minha filha que sofreu as consequências. Sem livro para ler e sem net de jeito para procurar um ebook (no desespero vale tudo), passei o serão a jogar Sims4 sobre o olhar reprovador da minha gaiata uma vez que estava a usar o computador dela. Acho que ela só o permitiu porque percebeu o meu desespero.
Felizmente no domingo de manhã fomos beber um café e o Modelo estava aberto. Com livros. Imensos livros, o que me dificultou a escolha. Mas este estava em destaque e confesso que estava curiosa para o ler e por isso (e apesar da minha ladainha não comprarás mais livros) acabei por o levar para casa.
Valeu a pena!
Não sou a maior especialista nesta autora de quem li apenas dois ou três livros. Mas Lobo Solitário será, para mim, o melhor de quantos li dela. Não apenas pela história em si, uma belíssima história que nos deixa a pensar, mas também, e acima de tudo, pela catadupa de informações sobre os lobos e as alcateias que me deixaram a respeitar ainda mais estes animais com quem os humanos teriam muito a aprender.
Contado pela voz de Luke, Cara, Georgie, Edward, Joe e Helen, conseguimos ter noção dos sentimentos que envolvem cada uma das personagens da história.
Luke e Cara tem um acidente de carro que deixa Cara com um braço partido e Luke em coma, sem reacção. Georgie, a mãe de Cara é chamada ao hospital por causa da filha, uma vez que esta é menor mas como está separada de Luke não pode tomar decisões sobre o seu estado clínico. Vê-se, por isso, obrigada a chamar o irmão de Cara, Edward, que, seis anos antes saiu de casa sem se despedir da família. Para Edward a situação clínica do pai é clara, os danos são irreversíveis e ele sabe que o pai nunca quereria viver amarrado a uma cama, sem poder estar com a sua alcateia. Cara acha que o irmão só se quer vingar do pai e que não lhe cabe tomar essa decisão, devendo ser ela a decidir. Mas será que essa é uma decisão pensada ou será que Cara tem algo a esconder da mãe e do irmão?
Pelas lembranças de Luke ficamos a saber como é viver em alcateia, as regras, as exigências e como cabe a todos os membros da alcateia respeitarem o seu lugar e os outros de modo a que a Alcateia funcione.
Georgie, a mãe dividida entre os seus filhos, que não quer tomar partidos mas que sabe o que todas as mães sabem mas não assumem: o coração de uma mãe tem sempre lugar para todos os seus filhos, mesmo quando eles não o percebem. E sim, as mães, em determinados momentos têm um filho preferido - que é aquele que, nesse preciso momento, precisa mais de nós. Nos outros momentos amamos todos de igual modo.
Neste livro somos obrigados a reflectir sobre a morte, sobre viver ou sobreviver e em que condições, sobre o amor e sobre o nosso lugar na sociedade. A cada momento questionamos o que faríamos no lugar de Cara ou de Edward e se seriamos capazes de, como Georgie ou Joe, de tomar o partido de um filho/enteado contra o seu irmão. E isso torna-o maravilhoso.
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