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O Oceano no Fim do Caminho de Neil Gaiman
ISBN: 9789722351997
Editado em 2014 pela Editorial Presença
Sinopse
Este livro é tanto um conto fantástico como um livro sobre a memória e o modo como ela nos afeta ao longo do tempo. A história é narrada por um adulto que, por ocasião de um funeral, regressa ao local onde vivera na infância, numa zona rural de Inglaterra, e revive o tempo em que era um rapazinho de sete anos. As imagens que guardara dentro de si transfiguram-se na recordação de algo que teria acontecido naquele cenário, misturando imagens felizes com os seus medos mais profundos, quando um mineiro sul-africano rouba o Mini do pai do narrador e se suicida no banco de trás. Esta belíssima e inquietante fábula revela a singular capacidade de Neil Gaiman para recriar uma mitologia moderna.
A minha opinião
Andava este livro lá por casa já há uns dias e no domingo peguei nele, apetecia-me algo novo, algo de diferente, num livro relativamente pequeno e que fosse rápido de ler já que estou a aguardar a chegada dum que quero iniciar logo que o tenha nas mãos.
A escolha recaiu sobre este Oceano no Fim do Caminho, do mesmo autor que Coraline, um filme de animação que adorei (entre outros tantos) e o resultado foi que, entre a tarde e o serão, acabei o livro e tive de começar outro.
Neil Gaiman cria, neste livro (tal como em Coraline), dois mundos: um, aquele em que vivemos, com as suas alegrias e memórias felizes e outro, mais negro, onde chegamos sem saber bem como. Fantasia negra será, talvez, a melhor forma de classificar este livro que nos leva pelos meandros da memória.
Aliás, fica a dúvida (porque me parece que é exactamente isso que o autor pretende) se as memórias do rapaz sobre Lettie e o que lhes aconteceu serão verdadeiras ou fruto duma imaginação demasiado fértil aos sete anos. Que, do lado de cá (ou do lado do rapaz) parecem ser verdadeiras - aos sete anos - mas fantasiosas quando, o mesmo rapaz, volta ao local onde passou a sua infância, quando já é um adulto.
Terei de dizer que este livro me despertou a vontade de ler Coraline - apesar de ter visto o fabuloso filme - e outros livros deste autor. Gosto de fantasia, ainda que negra e certamente irei gostar desses livros tanto como gostei deste.
Leia aqui as primeiras páginas
A Tragédia da Rua das Flores de Eça de Queirós
Sinopse
Joaquina da Ega (que mais tarde se virá a saber chamar-se Genoveva), natural da Guarda, casada com Pedro da Ega, vivia em Lisboa. Mas, logo após o nascimento do filho, abandona este e o marido para fugir com um emigrado espanhol. Em Espanha, torna-se cortesã. Entretanto, Pedro da Ega morre em Angola. Joaquina casa-se depois com M. de Molineux, um velho senador, com quem vive em Paris. Mas a queda do bonapartismo, trazem-na de volta a Portugal, agora com Gomes, um brasileiro, já que o senador havia falecido. Faz-se, então, passar por Mme. de Molineux. Em Lisboa, instala-se na Rua das Flores. Logo se envolve com Dâmaso de Mavião, a quem irá explorar sem piedade. No entanto, apaixona-se por Vítor, um jovem de 23 anos, bacharel em Direito. Quando faz 40 anos repele Dâmaso, planeando voltar para Paris com Vítor. O tio de Vítor, Timóteo, o único detentor da trágica verdade, tenta acabar com a relação dos dois. Decide, então, contar toda a verdade a Genoveva.
Ao saber que era amante do seu próprio filho, Genoveva atira-se da varanda de sua casa, na presença de Vítor, que nunca chegaria a perceber tal atitude nem a saber a verdade.
A minha opinião
E, aos 46 (ou será 47?) tenho a minha primeira experiência com Eça. Uma tragédia. Ou teria sido uma tragédia se eu não tivesse adorado ler A Tragédia da Rua das Flores. Percebi, com esta leitura, que afinal a minha impressão da adolescência, de quando somos obrigados a ler Os Maias, de que não iria gostar de ler Eça de Queiroz, era completamente errada e, com isto, fiquei com vontade de ler mais deste autor português. Talvez não Os Maias, para já, uma vez que este livro é o primeiro esboço do autor daquele livro e, por isso, estaria a ler a mesma história. Com mais escrita, talvez melhor, mas a mesma história.
A Tragédia chegou às minhas mãos, pela primeira vez, no âmbito do livro secreto. Aliás, ao que parece, e nas palavras da MJ
Sim, era eu. Eu, aquela que lê imenso e nunca tinha lido Eça.
Mas acontece que o livro que chegou às minhas mãos era uma das primeiras edições (de 1980) dos Livros do Brasil, com um grafismo péssimo, folhas demasiado finas, letras mal impressas... E eu lia uma ou duas páginas e ficava com dores de cabeça intensas. Acabei por não o ler mas comprometi-me - comigo e com as outras participantes - que iria procurar uma edição melhor que me permitisse cumprir o objectivo. Ler o meu primeiro Eça. Ler a Tragédia da Rua das Flores.
Foi o que fiz. E em boa hora o fiz.
A escrita de Eça é sedutora e habilidosa. As figuras de estilo e as descrições (algumas demasiado extensas, é verdade) são fabulosas e levam-nos numa viagem pelo tempo, a uma Lisboa do século XIX, com intrigas e paixões, numa sociedade hipócrita e fútil. Aliás, este livro é uma crítica social acérrima a essa mesma sociedade (e até, em parte, à actual sociedade).
É também este o encanto de Eça. Apesar de ter vivido há mais de 100 anos, as suas críticas sociais são intemporais, assim como as paixões e intrigas. E, se hoje choca que uma mãe e um filho se apaixonem (apesar de não se conhecerem como tal), imaginem em 1877 (data em que este livro terá sido escrito). Avançado para a época em que viveu, ainda actual mais de 100 anos depois.
Não vos quero obrigar a ler este ou outro livro de Eça. Não me parece que ler por obrigação seja o melhor. Mas que vos aconselho vivamente a experimentar este autor, sem dúvida. Comecem pela Tragédia da Rua das Flores. É mais pequeno que Os Maias e lê muito bem. Vão ver que não se arrependem. Eu não me arrependi!
Gosto de responder a perguntas sobre livros, de falar sobre livros, de ler sobre livros. Em suma, gosto de livros e de tudo o que os rodeia. Até de eventuais doenças.
Fui desafiada para responder à BookTag: Doenças Literárias e aqui estou eu:
Diabetes: Um livro muito doce
A Livraria dos Finais Felizes, sem qualquer margem para dúvida. Qualquer amante de livros vai achar este livro muito doce
Varicela: Um livro que nunca mais vais pegar para ler de novo
Adultério. Não gostei mesmo nada
Ciclo Menstrual: Um livro que reles constantemente.
As brumas de Avalon. Os livros que mais vezes reli. A última vez foi este verão, nas férias
Gripe: Um livro que se espalhou como vírus
e que, tal como a gripe, não o(s) quero lá em casa
Asma: Um livro que te tirou o fôlego
O último em que isto aconteceu foi O Silêncio do Mar. Recomendo!
Insónia: Um livro que te tirou o sono
Entre outros, A Bibliotecária de Auschwitz. Por norma, os livros baseados em factos reais que mostram a maldade do ser humano contra os seus iguais deixam-me sem sono.
Amnésia: Um livro que leste mas não te lembras muito bem
Confesso que me lembro pouco dos livros que li na infância e na adolescência, tirando os que mais me marcaram. Mas também dos livros lidos já em adulta, alguns marcaram mais que outros e, por isso, não me recordo muito da história dos outros. Um deles, escolhido à sorte no goodreads, é O Criado Secreto de Daniel Silva:
Doenças de Viagem: Um livro que te leva para outra época/mundo/lugar
Jane Eyre. Ou qualquer outro livro que eu leia. É esse um dos encantos dos livros, levam-nos a viajar em cada uma das suas páginas
Quem quiser responder à mesma tag, esteja à vontade para roubar
Nada te será exigido a não ser que dês o teu melhor em todas as ocasiões.
A Partir de Uma História Verdadeira de Delphine De Vigan
ISBN: 9789897222993
Editado em 2016 pela Quetzal Editores
Sinopse
A história é contada na primeira pessoa, com Delphine, a narradora, como uma das duas personagens. Todos os nomes são de pessoas reais: o da autora/narradora, o dos filhos, do namorado… A história é aparentemente autobiográfica e, no entanto, torna-se a certa altura um jogo de espelhos, em que é difícil discernir entre realidade e ficção. Nada previsível, cheio de surpresas, com um suspense crescente (chega a ser atemorizante), mantém o leitor literalmente agarrado até ao fim(*). Delphine crê que a sua incapacidade de escrever terá coincidido com a entrada de L. na sua vida. L. é a mulher perfeita que Delphine gostaria de ser: muito bonita, impecavelmente cuidada, de uma grande sofisticação e inteligência. L. está também ligada à escrita - é escritora-fantasma. L. insinua-se lenta mas inexoravelmente na vida de Delphine: lê-lhe os pensamentos, adivinha-lhe os desejos e necessidades, termina-lhe as frases, torna-se totalmente indispensável - é a amiga ideal. Mas, aos poucos, sabemos que ela conseguiu isolar Delphine (afastando toda a gente), que lhe lê os diários, a correspondência, que se faz passar por ela! E quer demover Delphine de escrever o livro que esta está a preparar, obrigando-a a escrever a obra que ela (L.) quer: Introduz-se, assim, na vida da amiga de forma insidiosa, permanente, por fim violenta, controlando tudo. É aqui que há um volte-face na intriga - até aí muito perto do real - e uma possibilidade autobiográfica. O fim é maravilhosamente surpreendente. O seu livro anterior, Rien ne s’oppose à la nuit, em que conta a história da mãe, vendeu cerca de um milhão de exemplares em França e teve vendas na casa das dezenas de milhares em Espanha.
A minha opinião
Desde sempre que digo que a aposta em novos autores compensa. Gosto de sair da minha zona de conforto e experimentar escritores. Habitualmente escolho-os tendo por base as críticas que leio por ai, mas desta vez foi uma recomendação que me foi enviada por email. E, sabem que mais? valeu muito a pena.
Misery traz-nos a história dum escritor cuja fã Annie obriga-o (com recurso a violência física e psicológica) a escrever o livro que ela quer. Neste temos uma situação totalmente oposta. L. consegue que Delphine não escreva mais, com recurso a violência psicológica (e, só mesmo no final, com recurso a alguma violência física) – aliás, como que a preparar-nos para este pensamento, a abertura do livro é esta:
... ele tinha a sensação de ser uma personagem cuja história não era contada com base em acontecimentos verdadeiros mas criada como numa ficção
in Misery de Stephen King
De uma forma brilhante, a autora, leva-nos a conhecer a história de Delphine (curiosamente a personagem principal e, ao mesmo tempo, a narradora, tem o mesmo nome da escritora, levando-nos a supor que poderá haver algum fundo de verdade neste livro) e a forma como foi aliciada por L., que, fascinava Delphine mas também se tornava insubstituível.
Não é, de todo, um livro com voltas e reviravoltas. É antes um livro em que a personagem principal se quer encontrar a ela própria após um período em que alguém tomou conta de si sem que ela se tivesse apercebido. É um thriller psicológico que, logo de início nos deixa antever o que aconteceu, levantando, ao mesmo tempo e, sub-repticiamente, diversas questões que nos deixam a pensar, mesmo depois de o deixarmos, o que o torna ainda melhor.
Com uma escrita deliciosa, encantadora, sem excessos, cativante e com um enredo bem construído donde fazem parte personagens com características bem vincadas, tenho a certeza que esta é uma autora a seguir.
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