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Leitura alheia: O Legado

por Magda L Pais, em 26.11.18

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O Legado de Yrsa Sigurðardóttir

Série DNA #1

ISBN: 9789897224331

Editado em 2018 pela Quetzal Editores

Sinopse

Uma jovem mulher é brutalmente assassinada na sua casa, em Reiquejavique. A única testemunha é a filha de sete anos, mas a criança não fala. Quando uma segunda mulher é assassinada, a polícia fica literalmente sem saber o que fazer. Entretanto, um radioamador recebe mensagens peculiares que o põem em conexão com as mulheres assassinadas, e a curiosidade move- -o a começar uma investigação por conta própria. Huldar, o detetive responsável por este caso, e Freyia, a psicóloga que tem a cargo a miúda - que presenciou o homicídio -, são obrigados a trabalhar em conjunto. Mas esta colaboração não é fácil: poucas semanas antes tinham-se conhecido num bar e passado a noite juntos, e, na manhã seguinte, ao acordar, Freyia constatara, dececionada, que Huldar - que se dera a conhecer não como polícia, mas como um carpinteiro recém- -chegado à cidade - se eclipsara.

Autora cimeira do supense (e dos tops de vendas) na Escandinávia e em todo o Mundo, Yrsa Sigurdardóttir mostra mais uma vez a sua competência na criação de uma história de grande ritmo narrativo, personagens inesquecíveis e uma intriga de grande inteligência. O Legado é o primeiro livro da trilogia DNA, também conhecida como «série Freyia e Huldar». Seguir-se-ão O Vortex e A Absolvição.

A opinião d'A Marquesa de Marvila

É uma história de suspense, policial. Eu gosto destas histórias, de vez em quando... têm é de ser boas!, e esta é boa. É boa na medida em que não estava nada a ver como os personagens se "colavam" uns aos outros, como é que cada crime estava ligado um com outro, quem poderia ser o culpado. Não é uma história genial, mas é muito boa! Gostei da escrita. É uma escrita que prende, que descreve qb (não gosto de livros muito descritivos), que nos leva aos locais sem nos maçar e nos apresenta os personagens (isto deste substantivo, já não se diz assim, mas eu digo, poder ser masculino ou feminino é uma chatice... eu tanto os trato de uma forma como de outra...) de uma forma crua e clara.

É uma daqueles livros que li rápido, que tive pena que tivesse chegado ao fim mas que não ficará guardado como um dos melhores livros de sempre. Se pudesse voltar a trás, voltaria a comprá-lo e a lê-lo. Mas também, raros foram os livros deste género literário que me ficaram como um dos melhores de sempre, exceptuando O Perfume, não me recordo de outro.

Agora que releio o que escrevi, talvez não esteja a ser muito justa com o autor, nem com os restantes autores deste género de escrita, compará-los ao Perfume não é, de todo, simpático. Mas esse livro ficará para outro post.

Se lerem este livro, por favor, digam-me de vossa justiça. Se gostarem, podem bradar aos mundo que foi por minha causa que o leram e que me estão eternamente gratos. Se não gostaram.... esqueçam que leram este post e perguntem-se: mas onde raio estava eu com a cabeça para ler este livro?... e culpem-se a vocês próprios, bale?

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Leitura Alheia: 1984

por Magda L Pais, em 19.11.18

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1984 de George Orwell 

Sinopse

Curioso percurso, o desta alegoria inventada para criticar o estalinismo e invocada ao longo de décadas pelos ideólogos democráticos, e que oferece agora uma descrição quase realista do vastíssimo sistema de fiscalização em que passaram a assentar as democracias capitalistas.

A electrónica permite, pela primeira vez na história da humanidade, reunir nos mesmos instrumentos e nos mesmos gestos o trabalho e a fiscalização exercida sobre o trabalhador. Como se não bastasse, a electrónica permite, e também sem precedentes, que instrumentos destinados ao trabalho e à vigilância sejam igualmente usados nos ócios. É graças à unificação de todos os aspectos da vida numa tecnologia integrada que a democracia capitalista pode realizar na prática as suas virtualidades totalitárias. O Big Brother já não é uma figura de estilo – converteu-se numa vulgaridade quotidiana.

A opinião d’a Vilã

Agradeço à Magda o convite para participar nas “Leituras Alheias” e, assim, poder partilhar a minha opinião sobre um livro que considero brilhante. Este foi um ano dedicado aos clássicos e, pelo caminho, encontrei aquele que se tornou um dos meus livros preferidos: 1984, de George Orwell.

Apesar de ter sido editado em 1949, não podia ser mais actual. É um livro visionário e, mais do que isso, levanta questões que estão hoje a ser debatidas e pensadas sobre a sociedade e o seu futuro.

Orwell não criou apenas uma sociedade distópica, mas todo um imaginário e uma estética, que, pela sua riqueza, deram origem ao adjectivo orwelliano. E isso, são poucos os autores que conseguem.

No livro, acompanhamos a história de Winston Smith, um cidadão anónimo que é diferente da maioria, no sentido em que é capaz de questionar a sociedade e tem a coragem de enfrentar um sistema com o qual não concorda, mesmo sabendo que tem todas as probabilidades de sair derrotado.

Será que é possível ser diferente numa sociedade onde tudo é controlado e vigiado, inclusive o próprio pensamento?

Será que é possível a revolta contra uma sociedade que proíbe o conhecimento e fomenta a ignorância?

Na sociedade totalitária de 1984, a maior arma é a manipulação do pensamento, a utilização da propaganda para controlar a realidade. O passado é alterado para criar a verdade em que as pessoas são levadas a acreditar.

E se toda a gente aceitasse a mentira (...) – se todos os documentos apresentassem a mesma versão – , então a mentira passaria à História e tornar-se-ia verdade. Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente controla o passado.

E, para que tudo isto resulte, é preciso evitar o acesso ao conhecimento que possa levar a questionar o poder instalado. A ignorância é outra arma essencial na sociedade do Big Brother. Por isso, é preciso proibir o acesso aos livros e à educação e manter a pobreza e a desigualdade.

A ortodoxia significa ausência de pensamento, ausência da necessidade de pensar. A ortodoxia é inconsciência

Aqui, até a própria língua é utilizada como arma para controlar a liberdade de pensamento. Orwell criou o conceito de novilíngua, onde as palavras são alteradas, manipuladas e suprimidas com o objectivo de impedir que o pensamento vá além do que é pretendido, com base no princípio de que não é possível pensar se não existirem palavras que o permitam. É muito interessante e dá que pensar esta relação entre a linguagem e o pensamento.

Ano após ano, cada vez menos palavras, e o alcance da consciência cada vez mais limitado.

Falta referir o medo como a derradeira arma, que permite manter a população em modo de sobrevivência. É preciso que o mundo esteja em guerra permanente, mesmo que fictícia, e que o outro seja encarado como o inimigo que é preciso odiar. O contacto com estrangeiros é proibido para que não se perceba que são seres humanos semelhantes a nós. O mundo deve manter-se o mais fechado possível para manter vivo o medo, o ódio e o fanatismo contra o outro.

Pouco importa que essa guerra esteja ou não realmente em curso e, dado ser impossível qualquer triunfo decisivo, tão pouco importa que ela corra bem ou mal. Basta que o estado de guerra exista.

É tudo isto que Winston Smith tem que enfrentar para manter a sua existência enquanto ser humano que quer ser livre no pensamento. Mas, será que depois de nos tirarem tudo, essa possibilidade existe? Isso ficará ao critério de cada um depois de ler o livro.

Depois de ler 1984, é impossível não pensar ao que assistimos hoje com a propagação das fake news, a relativização da verdade, a revolução tecnológica associada à manipulação da vontade e à ilusão da privacidade.

Para mim, mais importante do que ser uma obra visionária, é a possibilidade que nos dá para pensar o presente e prevenir que o futuro siga por caminhos pouco recomendáveis. É por isso que 1984 deve continuar a ser lido e relido. E também porque é um livro genial.

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Classificação:  (porque não podem ser 6)

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Leitura Alheia: Silêncio

por Magda L Pais, em 12.11.18

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Silêncio de Shusaku Endo

ISBN: 9789722041355

Editado em 2010 pela Dom Quixote

Sinopse

Uma fascinante introspecção que questiona o silêncio de Deus perante a agonia dos que nele crêem.

Silêncio, cuja acção decorre no século XVII, conta-nos a história de um missionário português envolvido na aventura espiritual da conversão dos povos orientais, o qual acaba por apostatar, após ter sido sujeito às mais abomináveis pressões das autoridades japonesas, para evitar que um grupo de fiéis seja por ordem delas torturado até à morte.

Antes de chegar ao Japão, a sua viagem leva-o a Goa, depois a Macau e, finalmente, a Nagasáqui e Edo, em etapas que pouco a pouco o transportam a esse Oriente hostil, onde no entanto já se contam alguns milhares de convertidos à fé católica.

Aí descobre, na luta contra as pessoas e o ambiente adversos, a verdadeira fé, liberta de todo o aparato externo, eclesiástico ou mundano. E aí acaba por experimentar a derradeira solidão, que é o destino daqueles que quebram a comunhão com o que mais profundamente marca a sua identidade.

A opinião da Maribel

Este Silêncio, escrito por Shusaku Endo, foi o livro que escolhi para apresentar no desafio proposto pela nossa Magda Pais, que me convidou a fazer parte desta sua nova rubrica: “Leituras Alheias”, desde já agradeço o convite para entrar em blogue alheio!

Escolhi esta obra, não por ser um livro leve de ler, ou animado na sua narrativa, pelo contrário, é um livro que apresenta uma história complexa e dramática de um simples padre missionário que procura evangelizar e difundir a Fé Cristã no Japão que, em nada se apresenta disponível, para acolher tal religião!

Embora seja um livro pequeno em número de páginas, apresenta-se complexo e repleto de relatos históricos e culturais. Mostra várias formas de olhar a religião e a Fé. Questiona, constantemente, os nossos próprios conceitos de moral e ética. Realça realidades políticas e culturais…

Esta obra deixa-nos expectantes em relação a toda a ação que está inerente ao personagem principal, mas deixa-nos desconfiados e curiosos sobre tantas outras personagens: quem não se questiona, tantas vezes, sobre a ação enigmática de Kichigiro, ao longo deste enredo?!

Um livro que não me permitiu ficar indiferente… que me deixou triste e a sorrir só em um ou dois ‘virar de páginas’, que me ensinou muito sobre humildade, Fé, humanidade, ideologias, escolhas, culturas, segredos e silêncios…

Não proponho este livro a todas as pessoas, proponho-o apenas a quem queira sentir emoções diferentes na leitura… a quem deseje questionar valores e moralidades… a quem tencionar refletir muito para além do seu recinto de conforto… a todos/as os/as que desejem uma leitura intensa em relatos de vidas e vivências sofridas e intensas…

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Leitura Alheia: Uma Viagem à Índia

por Magda L Pais, em 05.11.18

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Uma Viagem à Índia de Gonçalo M. Tavares

ISBN: 9789722121309

Editado em 2010 pela Editorial Caminho

Sinopse

A primeira epopeia portuguesa do século XXI.

Imagine uma aventura da mesma magnitude de Os Lusíadas, mas que fosse escrita hoje. Um homem que faz uma viagem à Índia, tentando aprender e esquecer no mesmo movimento, traçando um itinerário de uma certa melancolia contemporânea. É assim que os grandes críticos têm definido este livro, escrito por Gonçalo M. Tavares, um dos mais aclamados escritores portugueses da nova geração

A opinião da Gaffe

Não sou crítica literária. Não sei guiar as minhas leituras pelos intrincados corredores da Teoria da Literatura. Sou apenas uma leitora um bocadinho compulsiva que escolhe a emoção como elemento primordial na selecção de um livro.

Sou impelida, portanto, a dirigir a atenção de quem quer espreitar uma breve análise mais erudita das páginas que maravilham, para Eduardo Lourenço e para o prefácio do livro que, na minha mais humilde e siderada opinião, é uma das mais belas obras que nos foi dado conhecer e, com a certeza do translumbre, o livro que durará os séculos que por aí faltam e virão.

Uma Viagem à Índia de Gonçalo M. Tavares é uma das mais extraordinárias obras que alguma vez me foram dadas a ler e compensa algumas as desilusões com que a literatura portuguesa nos tem brindado ultimamente.

Uma Viagem à Índia deve ser lido várias vezes. São um aglomerado de quadros, uma narrativa em socalcos, que nos abraça, nos aperta o coração e nos pede para pensar, depois de seduzidos e absolutamente fascinados e deslumbrados pelo que se encadeia de modo comovente de tão magistral. É uma obra genial e, como todas as produções geniais, particularmente no âmbito da literatura, imprescindível ao acervo mais íntimo de cada um de nós.

Sinto-me orgulhosa por ser contemporânea de um génio e de me ser dada a possibilidade de lhe reconhecer de forma inequívoca essa genialidade. Sinto-me grata por ter oportunidade de assistir ao crescimento em tempo real do escritor - a palavra tem qualquer coisa de sagrado quando nos reporta a este livro - que vai doando à literatura universal pedaços inolvidáveis de eternidade.

Deixar de o ler é quase como deixar voluntariamente de respirar. 

A minha querida Magda fala-vos do resto.

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A vida na porta do frigorífico de Alice Kuipers

ISBN: 978-972-23-4246-9

Editado em 2009 pela Presença

Sinopse

Claire e a mãe vivem na mesma casa, mas, para todos os efeitos, é como se vivessem em planetas diferentes.

Claire tem quinze anos e uma vida imprevisível como qualquer adolescente, enquanto a mãe, uma obstetra dedicada, se vê muitas vezes absorvida por urgências no hospital.

As duas raramente se cruzam, e a porta do frigorífico acaba por se tornar a plataforma de contacto onde deixam recados uma à outra e se vão mantendo informadas acerca dos acontecimentos das suas vidas.

Mas um dia Claire depara-se com um recado diferente do habitual, e a partir daí terá de lutar contra a distância que a separa da mãe e contra o tempo que se esgota...

A opinião da Magui Ferreira

Na contra-capa do livro somos informados de que se trata duma narrativa despretensiosa, na altura em que o li era isso que me interessava, um livro “levezinho”, simples, com uma linguagem fluída para ler nas férias.

Não é o livro da minha vida, mas, curiosamente quando surgiu o convite da Magda lembrei-me imediatamente dele.

Porque o seu despojamento me cativou e a história entre mãe e filha, não sendo a minha realidade, me remeteu igualmente para o turbilhão de sentimentos que conheço bem.

As personagens podiam ser igualmente um pai e um filho, amigos, companheiros, cônjuges, porque o essencial é a relação existente entre duas pessoas que se amam.

Numa época em que o mundo gira à volta do digital, em que vamos comunicando uns com os outros através das redes sociais, é curioso constatar que ao mesmo tempo que esta mãe não tem telemóvel, também não tem disponibilidade para a filha adolescente, engolida que está pelo trabalho que é incompatível com os horários de Claire.

Não deixa de ser irónico que na era da comunicação, elas comuniquem através de recados deixados na porta do frigorífico.

O livro permite-nos entrar sem pudor naquela cozinha partilhada por mãe e filha, e ficar a conhecê-las através do que vão escrevendo uma à outra, sem nunca se cruzarem.

Sentimos a culpa da mãe, a revolta da filha, a frustração e o medo das duas, mas também o afecto, a cumplicidade.

E esperamos que num qualquer momento elas se encontrem perante nós e que os recados cedam lugar a um sorriso, um abraço, um bom dia de viva voz e vamos mantendo a esperança que isso aconteça.

Um livro comovente que nos leva a (re)pensar a forma como nos relacionamos com os outros, principalmente com aqueles que amamos.

É uma chamada de atenção, para aquilo que no fundo todos sabemos mas vamos ignorando. A vida é imprevisível e num instante o controlo que julgamos ter sobre ela nos foge irremediavelmente.

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