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Duas faces da mesma moeda

por Magda L Pais, em 23.09.15

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Há quem tenha uma necessidade extrema de escrever e há quem tenha uma necessidade extrema de ler. Ambos, escritor e leitor, são pessoas. Únicas. Com defeitos, virtudes, capacidades que fazem com que a sua forma de ler ou escrever seja, também ela única, porque é reflexo da sua forma de estar e de ser.

Mas há um laço que os une – a palavra, os textos. Escritos por uns, lidos pelos outros.

Saber escrever é ter preocupações com a ortografia e a gramática. É respeitar a língua na qual escrevemos, é ter o cuidado de nos aperfeiçoarmos. É saber transmitir, em palavras, histórias e sentimentos. É aceitar críticas construtivas. E é ler. Ler muito. É saber ler.

E saber ler não é passar os olhos na diagonal, chegar ao fim e dizer que o título diz tudo. Saber ler é ler com espírito crítico, ler nas linhas e nas entrelinhas. Saber ler é apreender tudo o que está no texto. É ler uma frase e pensar que ficaria melhor de uma ou doutra maneira, ou pensar que é uma frase perfeita e que gostaria de ter sido o próprio a escrevê-la. Ler é também viajar. Pelas imagens que outros construíram. Viver as vidas que outros imaginaram.
Muita da minha aprendizagem saiu dos livros e dos textos que vou lendo. Hoje, quando escrevo alguma coisa, não perco de vista autores que me influenciam, de forma positiva ou negativa. É nos textos deles que encontro as lições que preciso para escrever (e tanto que ainda tenho para aprender…).
Enquanto houver quem saiba ler terá de haver quem saiba escrever (ou vice-versa). A leitura não existe sem a escrita, mas a escrita também não existe sem a leitura. São duas faces da mesma moeda – os textos – que se devem respeitar e entreajudar.

E como funciona essa entreajuda? Simples. O escritor deve corresponder às expectativas do seu leitor, continuando a escrever, melhorando a sua escrita e publicando-a. E o leitor deve ler com o respeito que qualquer texto merece, fazendo, críticas construtivas que ajudem o autor a melhorar. E é essa a função do leitor. Ajudar o autor a encontrar as suas falhas, para que, no texto seguinte, possa melhorar.

Num intercâmbio perfeito em que todos beneficiam.


19 comentários

De Cláudia Oliveira a 23.09.2015

Concordo com tudo, mas também conheço livros que não precisam de ser pensados/reflectidos. São para entreter,  divertir, passar o tempo. Não acho que alguém seja menos leitor por ler um livro destes. 

De Magda L Pais a 23.09.2015

claro que sim. Se bem que tambem com esses, que nos divertem e nos entretem, podemos aprender alguma coisa

De Cláudia Oliveira a 23.09.2015

Eu não aprendo nada com livros "Louca por Compras". Só tenho ataques de riso. Quem diz este, diz outro do género. 

De Magda L Pais a 23.09.2015

ahahahahaha aprendes a rir :D eu adoro livros que me fazem rir

De Cláudia Oliveira a 23.09.2015

aprendi a rir muito cedo, devia ter uns dois meses. :D ahahah

De Magda L Pais a 23.09.2015

eheheheheheheheheheh aprendemos cedo a rir, mas não deixa de ser bom podermos rir (e olha que anda por ai cada macambuzio...)

De Olavo Rodrigues a 24.09.2015

Bebi cada palavra. Crítica de leitor - a escritora saiu-se lindamente e neste texto nada tem de ser alterado. Sugestão - a escritora deve manter esta perfeição em todos os textos. :)

De Magda L Pais a 24.09.2015

Agora é que me deixaste sem palavras, e olha que isso é coisa quase impossível :D muito obrigado!!!

De Rute Justino a 14.10.2015

Adorei que interessante 

De Magda L Pais a 14.10.2015

Ainda bem que gostaste

De Sofia a 14.10.2015

É por essas e por outras que eu desconfio das pessoas que dizem que gostam de escrever, mas que não gostam de ler - o que para mim não tem lógica nenhuma. Cheguei a ler uma notícia há uns anos dizendo que, hoje em dia, as editoras recebem manuscritos de potenciais escritores que se vê que nunca abriram um livro na vida: ou que escrevem tudo em diálogo ou como se fosse uma novela, sei lá... 


Ando até a ver se encontro o tal artigo...

De Magda L Pais a 14.10.2015

de facto há por ai alguns escritores que acho que nunca lerem nada nem sequer tentaram ler e por isso acredito piamente nessa noticia. Se o encontrares, manda-me por favor

De Sofia a 14.10.2015

Encontrei! http://p3.publico.pt/node/10241/


Agora em retrospetiva, acho que algumas das declarações que fazem nesse artigo são um bocadinho injustas. Escrever um livro nem sempre é fácil, exige muito tempo e muita dedicação. Eles dizem que esta é a geração da televisão e da Internet e tal, mas se existem uns quantos dispostos a sentar-se ao computador e, em vez de passarem a vida no Facebook, tentam escrever um livro, devem ser louvados por isso.


Não me parece que o problema seja a "falta de talento", mas sim, lá está, o facto de, visto não lerem, não terem bons exemplos e não procurarem aprender mais sobre a língua. Nem era preciso muito, bastava prestarem atenção às aulas de Português e lerem alguns livros.


Não acredito na ideia de que há quem tenha talento e há quem não o tenha. Eu sempre tive queda para a escrita, mas não nasci sabendo escrever, muito pelo contrário. Como escrever sempre foi algo que fiz por gosto, como lazer, aprendi a escrever escrevendo. Mas também fui ajudada, corrigida, sobretudo pelos meus professores de Português - o tal intercâmbio de que fala neste post. Qualquer pessoa pode aprender a escrever bem desde que esteja disposta a dedicar tempo a isso.

De Magda L Pais a 15.10.2015

obrigado pela noticia, não a tinha lido de facto


há coisas com as quais concordo - de facto há muitos jovens que querem escrever um livro só porque o outro escreveu. Aliás, vejo isso aqui nos blogs, sempre que um bloguista anuncia que vai editar um livro, surgem logo meia dúzia a dizer que tambem o querem fazer... E alguns desses, em cada seis palavras, dão oito erros...
Por outro lado a geração da televisão.. sim, confesso que se vê isso, se não nos livros, nos blogs. Escrevem apenas em dialogos, sem ligação aparente.
Claro que todos podemos aprender a escrever. Sem dúvida. mas quantos tem interesse nisso e se mostram suficientemente humildes para reconhecer que aprendemos sempre?

De Sofia a 15.10.2015

É o velho mito de que um livro é dinheiro fácil, quando o processo é muito mais difícil e muito menos glamour do que se pensa. A mim custa-me a acreditar que as pessoas se sujeitem a esse processo só por dinheiro ou pelo prestígio, sem contratarem escritores-fantasma, a menos que escrevam um livro medíocre e mesmo assim. Mas, lá está, todos podem escrever um livro decente, desde que tenham a paciência e a humildade para aprender.

De Miss F a 14.10.2015

Gostei muito deste texto! Já me aconteceu tantas vezes parar a meio da leitura para reescrever mentalmente a frase ou ler a mesma frase mil vezes porque está tão perfeita que merece ser apreciada.


Concordo inteiramente, ler não é passar os olhos, é apreender aquilo que está escrito e perceber o que está nas entrelinhas. Mas sabes que 'culpo', em parte, a formação que recebemos nas escolas, onde a interpretação de textos se centra naquilo que vem no programa e, quando um aluno discorda ou tem outra opinião (fundamentada e relevante) o professor diz que não é nada disso, o que está no programa é aquilo. Não há um incentivo à racionalização mas sim um incentivo à memorização daquilo que é suposto ser interpretado.

De Magda L Pais a 14.10.2015

Felizmente nem todos os professores são assim. Encontrei vários, no meu percurso escolar que defendiam que podíamos interpretar da forma que quiséssemos, desde que fundamentássemos a nossa opinião. A minha filha também teve essa sorte. Claro que se aprende, desde novo, a fazê-lo. E sabe tão bem

De Miss F a 14.10.2015

Sim, felizmente há professores que nos dão liberdade de pensamento e interpretação. Mas também tive a infelicidade de encontrar outros que nem por isso. Tive uma professora de Filosofia que uma vez confidenciou que, de ano para ano, os alunos que chegavam ao 10º ano sabiam cada vez menos pensar. Não se tratava de serem burros ou terem poucas capacidades, mas vinham 'formatados' para ouvir, calar e repetir no teste o que tinham ouvido.

De Anónimo a 14.10.2015

Acredito. Afinal pensar dá trabalho... Uns porque se cansam outros porque não querem e outros porque são ensinados assim. O resultado: Os alunos saem cada vez menos preparados. Sabem debitar a matéria mas não a conseguem aplicar

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