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Escrava de Damien Lewis e Mende Nazer
A história desta corajosa e decidida mulher não é contudo uma história passada e remota. Tudo aconteceu em 1994 quando um grupo de mujahiddin atacou a sua aldeia. Os adultos foram mortos, as crianças levadas como escravas.
Durante sete anos ela serviu numa casa tendo depois sido passada a familiares que viviam em Londres. Na capital europeia conheceu outros sudaneses e com a ajuda do jornalista Damien Lewis conseguiu fugir. Este é o seu relato de denúncia. O seu grito por justiça e liberdade.
A minha opinião
Este não é, seguramente, um livro de leitura fácil. É um livro que é pesado, forte e um grande murro no estômago. Mas, ao mesmo tempo, é terno e apaixonante.
Aos 12 anos (pensa-se que teria 12 anos, uma vez que os Nuba não festejam os aniversários nem tem registo dos nascimentos), Mende é capturada na sua aldeia por um grupo de mujahiddin. É violada pelo seu captor e depois entregue a um comerciante de escravos que a vende a uma família sudanesa que a maltrata desde o primeiro dia. Mende, aos poucos, vai percebendo que deixou de ser livre e passou a ser uma coisa. Mais um objecto que aquela família tem em casa. Ao mesmo tempo que Mende nos conta o que sofre, partilha também connosco as recordações da infância, o seu sonho de estudar para ser médica e como era feliz e amada até à noite em que o pesadelo começou.
Uns anos mais tarde, Mende é enviada como se fosse uma mercadoria para uma família em Londres onde a violência, apesar de ser mais psicológica que física, a leva a pensar em por termo à vida. Um dia, ajudada por outro nubiano e um jornalista inglês, Mende consegue fugir e pede asilo. Que não lhe é concedido de imediato porque... pasmem-se, a escravatura não era reconhecida como violência...
Os relatos da violência cometida contra Mende tornam este livro pesadíssimo. Mas confesso que a parte que mais me impressionou e que quase me levou a vomitar o pequeno almoço foi o relato da circuncisão (que aconteceu ainda na aldeia e um ou dois anos antes do rapto). Mende foi sujeita a infibulação, a forma mais grave e que consiste na costura dos lábios ou do clítoris, impedindo a menstruação e frequentemente levando a mulher à morte. E isto por volta das 10/11 anos de idade... Simplesmente pavoroso pensar o que as crianças sofrem, a sangue frio, em nome duma religião que, na realidade, não o exige.
Seria bom que mais pessoas lessem este livro, que políticos o lessem e que percebessem que esta história não aconteceu no século XIV ou XI. Passou-se em 1994 e Mende só se conseguiu libertar no ano 2001. E que ainda há imensas crianças escravas no Sudão e na Somália que precisam de ser libertas. Crianças tratadas como lixo, como objectos e que não se conseguem libertar.
Se calhar valia a pena pensar nisto...
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