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Fui desafiada, no facebook, a colocar, durante sete dias, sete capas de livros de que tenha gostado ou que me tenha marcado, sem dar qualquer explicação. Fui uma menina semi bem comportada. E semi porque, efectivamente, não expliquei nada sobre cada capa mas, em contrapartida, escolhi dez livros e não sete porque era impossível, da colecção em causa, escolher apenas um.
Terminei hoje o desafio e estes foram os livros escolhidos:
O Último dos Nossos, um dos melhores livros que li em 2017, um dos melhores livros que li desde sempre. Uma história de amor e perdão, de filhos e pais. Uma história complexa, surpreendente, com uma escrita simples e despretensiosa que nos encanta da primeira à última página.
Antes de Sermos Vossos, um dos melhores livros que li em 2018, um dos melhores livros que li desde sempre. Baseado em factos verídicos, este é livro que me deixou de luto, sem vontade de pegar noutro de seguida. Um livro intenso, que mexe com todos os sentimentos, que mexe com as nossas convicções e que nos deixa um amargo de boca.
As Brumas de Avalon. Não são precisas grandes explicações. Estão no topo das minhas preferências, são os livros que já li mais vezes e, tenho a certeza, um dia voltarei a ler.
Arroz de Palma é um livro de afectos e da família. E numa altura em que os papeis se invertem a sua importância é ainda maior.
Um Homem Chamado Ove é um livro ternurento e encantador, que nos arranca gargalhadas e que nos deixa a pensar na forma como muitas amizades surgem de forma inesperada. E é também um filme exactamente igual, em que até os actores são, em quase tudo, tal e qual como os imaginamos enquanto líamos o livro.
A Livraria dos Finais Felizes foi o único livro que, quando acabei a última página, recomecei logo de seguida. Porque este livro sou eu. Este livro sou eu e somos nós. São todos aqueles que gostam de ler, que acham que os livros são um escape ou que conseguem sentir o cheiro dos livros.
Perguntem a Sarah Gross, finalista do prémio Leya em 2015, romance de estreia de João Pinto Coelho. Demorei 4 dias a devorar e degustar este livro. Porque este é um livro que se lê assim, de uma penada e com cuidado - muito cuidado - para não perdermos a paragem de autocarro ou do metro.
Haveria mais, muitos mais livros para escolher. Mas eram só sete dias, sete livros...
E vocês, se fossem desafiados, que livros escolheriam?
Entretanto...
Sim, eu reli A Livraria dos Finais Felizes logo que o acabei de ler. Nunca um tinha feito com um livro mas fi-lo com este porque, como já disse antes, senti a minha paixão pelos livros retratada na perfeição. E posso dizer-vos que, cheguei ao fim com a alma cheia. Este livro sou eu. Este livro sou eu e somos nós. São todos aqueles que gostam de ler, que acham que os livros são um escape ou que conseguem sentir o cheiro dos livros. E é também aqueles que passam horas infinitas a ler sem dar conta de quem está por perto.
E é esse pedaço de livro que vos trago, agora que terminei a releitura.
Livro a reler, sem dúvida.
Sara estava convencida de que a maioria das pessoas que alguma vez pensava nela achava que os livros lhe serviam de escape.
E talvez fosse verdade. Logo no liceu, percebera que poucas pessoas prestavam atenção a quem tivesse o nariz enfiado num livro. De vez em quando, Sara tivera de levantar o olhar para se desviar de uma régua ou de um manual escolar que voava pelos ares, mas, habitualmente, não tinham sido atiradas para ela em particular, e não costumava ficar sem saber em que parte do livro ia. Enquanto os seus colegas martirizavam os outros ou eram, eles próprios, atazanados, inscreviam símbolos sem significado nos tampos das secretárias ou rabiscavam os cacifos uns dos outros, ela viver paixões avassaladoras, morte, gargalhadas, terras distantes, dias perdidos. Os ouros poderiam achar-se encalhados num velho liceu em Haninge, mas ela fora uma geisha no Japão, deambulara lado a lado com a última imperatriz da China entre as quatro paredes dos claustrofóbicos aposentos na Cidade Proibida, crescera com a Ana dos Cabelos Ruivos, cometera uma boa dose de homicídios e amara e sofrera uma e outra vez.
Os livros tinham constitutivo uma defesa, sim, mas não era só isso. Tinham protegido Sara do mundo à sua volta ,as também o tinham transformado num difuso pano de fundo para as verdadeiras aventuras existentes na sua vida.
in A Livraria dos Finais Felizes de Katarina Bivald
A Livraria dos Finais Felizes de Katarina Bivald
Sophy abriu o livro com cuidado, como se receasse danifica-lo.
- Não, não - disse Sara, levando Sophy a olhar para cima, alarmada. - Abre-o mesmo. - e exemplificou. - Tens de conseguir enfiar o teu nariz lá dentro.
Sophy ergueu o livro até à cara, ainda a medo e com muito cuidado, e inspirou lentamente. Sorriu.
- Consegues senti-lo? O cheiro de livros novos. Aventuras por ler. Amigos que ainda não conheceste, horas de escape mágico à tua espera.
In A Livraria dos Finais Felizes de Katarina Bivald
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