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A Partir de Uma História Verdadeira de Delphine De Vigan
ISBN: 9789897222993
Editado em 2016 pela Quetzal Editores
Sinopse
A história é contada na primeira pessoa, com Delphine, a narradora, como uma das duas personagens. Todos os nomes são de pessoas reais: o da autora/narradora, o dos filhos, do namorado… A história é aparentemente autobiográfica e, no entanto, torna-se a certa altura um jogo de espelhos, em que é difícil discernir entre realidade e ficção. Nada previsível, cheio de surpresas, com um suspense crescente (chega a ser atemorizante), mantém o leitor literalmente agarrado até ao fim(*). Delphine crê que a sua incapacidade de escrever terá coincidido com a entrada de L. na sua vida. L. é a mulher perfeita que Delphine gostaria de ser: muito bonita, impecavelmente cuidada, de uma grande sofisticação e inteligência. L. está também ligada à escrita - é escritora-fantasma. L. insinua-se lenta mas inexoravelmente na vida de Delphine: lê-lhe os pensamentos, adivinha-lhe os desejos e necessidades, termina-lhe as frases, torna-se totalmente indispensável - é a amiga ideal. Mas, aos poucos, sabemos que ela conseguiu isolar Delphine (afastando toda a gente), que lhe lê os diários, a correspondência, que se faz passar por ela! E quer demover Delphine de escrever o livro que esta está a preparar, obrigando-a a escrever a obra que ela (L.) quer: Introduz-se, assim, na vida da amiga de forma insidiosa, permanente, por fim violenta, controlando tudo. É aqui que há um volte-face na intriga - até aí muito perto do real - e uma possibilidade autobiográfica. O fim é maravilhosamente surpreendente. O seu livro anterior, Rien ne s’oppose à la nuit, em que conta a história da mãe, vendeu cerca de um milhão de exemplares em França e teve vendas na casa das dezenas de milhares em Espanha.
A minha opinião
Desde sempre que digo que a aposta em novos autores compensa. Gosto de sair da minha zona de conforto e experimentar escritores. Habitualmente escolho-os tendo por base as críticas que leio por ai, mas desta vez foi uma recomendação que me foi enviada por email. E, sabem que mais? valeu muito a pena.
Misery traz-nos a história dum escritor cuja fã Annie obriga-o (com recurso a violência física e psicológica) a escrever o livro que ela quer. Neste temos uma situação totalmente oposta. L. consegue que Delphine não escreva mais, com recurso a violência psicológica (e, só mesmo no final, com recurso a alguma violência física) – aliás, como que a preparar-nos para este pensamento, a abertura do livro é esta:
... ele tinha a sensação de ser uma personagem cuja história não era contada com base em acontecimentos verdadeiros mas criada como numa ficção
in Misery de Stephen King
De uma forma brilhante, a autora, leva-nos a conhecer a história de Delphine (curiosamente a personagem principal e, ao mesmo tempo, a narradora, tem o mesmo nome da escritora, levando-nos a supor que poderá haver algum fundo de verdade neste livro) e a forma como foi aliciada por L., que, fascinava Delphine mas também se tornava insubstituível.
Não é, de todo, um livro com voltas e reviravoltas. É antes um livro em que a personagem principal se quer encontrar a ela própria após um período em que alguém tomou conta de si sem que ela se tivesse apercebido. É um thriller psicológico que, logo de início nos deixa antever o que aconteceu, levantando, ao mesmo tempo e, sub-repticiamente, diversas questões que nos deixam a pensar, mesmo depois de o deixarmos, o que o torna ainda melhor.
Com uma escrita deliciosa, encantadora, sem excessos, cativante e com um enredo bem construído donde fazem parte personagens com características bem vincadas, tenho a certeza que esta é uma autora a seguir.
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