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Jogos de Raiva de Rodrigo Guedes de Carvalho
ISBN: 9789722065047
Editado em 2018 pela Dom Quixote
Sinopse
Um homem levanta a voz acima da algazarra de conversas. E pede que ponham mais alto o som do televisor do restaurante. É então que todos reparam no que ele vê. Não percebem ou não acreditam. E na rua, no bairro, na cidade, no país, homens, mulheres e crianças vão-se calando. Está por todo o lado, a imagem horrível e hipnotizante. O homem que pediu silêncio leva as mãos à cara e pensa: como chegámos aqui?
A era da comunicação global trouxe inimagináveis maravilhas. Partilhas imediatas de ensinamentos, denúncias e solidariedades. Mas permitiu também que saísse das cavernas uma realidade abjecta. Insultos, ameaças, ironias maldosas. Nunca, como hoje, a semente do ódio foi tão espalhada.
É sobre este pano de fundo que se conta a história de uma família. Três gerações a olhar para um futuro embriagado num estado de guerra. Uma família que esconde, enquanto puder, um segredo.
Jogos de Raiva traça duros retratos sem filtro sobre medos e remorsos, sobre o racismo, a depressão, a sexualidade, o jornalismo, a adopção, a arte e a amizade. E o poder das histórias.
É sobre a urgência da confiança, da identidade e do amor.
É um livro sobre todos nós, à deriva num novo mundo.
A minha opinião
Tenho de confessar que nunca pensei ler este livro. Começam a ser demasiados jornalistas a dar uma perninha na escrita, vá-se lá saber porquê, fica-me sempre a sensação que se estão a aproveitar da fama para outros voos, sabe-se lá com que qualidade. Ou sabe-se lá quem é que realmente escreve os livros.
Mas depois a Márcia - pessoa que admiro imenso e que é muito exigente na leitura - leu estes Jogos de Raiva e descreveu-o com uma simples palavra: fenomenal. Fiquei curiosa, é verdade, mas ainda com algumas dúvidas.
Depois veio a Pequeno Caso Sério com a sua critica fantástica e eu achei que, bem, se calhar o melhor é ler mesmo. Aproveitei um bom vale que tinha na Bertrand e pronto. O livro veio cá para casa e foi lido (ou melhor, devorado) em menos de nada.
Jogos de Raiva é, muito provavelmente, um dos melhores livros que li este ano. É, muito provavelmente, um dos melhores livros de um autor português que alguma vez li, ali, taco a taco com Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas. É um livro poderoso, um portento. Mas também um murro no estômago, angustiante e intenso.
Viajamos, ao sabor dos acontecimentos e das recordações, entre o passado e o presente de três gerações duma família, com segredos, desavenças, amores e desamores. Aborda temas tão dispares como a violência, bullying, adopção, redes sociais, amor, amizade, família, homossexualidade, sexualidade, remorsos, depressão e sofrimento. Critica, de forma dura, o jornalismo - aquele de que o próprio autor faz parte - que vive do sangue, da desgraça alheia e que não respeita nada nem ninguém.
Mas não só.
Jogos de Raiva desmonta, de forma fenomenal, a sociedade actual que vive através das redes sociais, cuja preocupação maior é perceber quantos likes as publicações tiveram, ou os comentadores profissionais que vivem nas caixas de comentários, sempre prontos a ofender e a criticar.
Jogos de Raiva obriga-nos a pensar. A repensar. Na nossa vida, na vida dos outros, na nossa família e na família dos outros. Revolta-nos, encanta-nos e deixa-nos, quando terminamos, com um vazio num estômago, com a nítida sensação que nada será como antes e sem sabermos, ao certo, como poderemos pegar noutro livro, tendo a certeza absoluta que nenhum outro será tão bom como este.
devia haver leitores profissionais, tão exigentes quanto atentos e sensíveis e inteligentes, e talvez, quem sabe, talvez assim aparecessem melhores escritores.
Classificação:
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Jogos de Raiva de Rodrigo Guedes de Carvalho
ISBN: 9789722065047
Editado em 2018 pela Dom Quixote
Sinopse
Um homem levanta a voz acima da algazarra de conversas. E pede que ponham mais alto o som do televisor do restaurante. É então que todos reparam no que ele vê. Não percebem ou não acreditam. E na rua, no bairro, na cidade, no país, homens, mulheres e crianças vão-se calando. Está por todo o lado, a imagem horrível e hipnotizante. O homem que pediu silêncio leva as mãos à cara e pensa: como chegámos aqui?
A era da comunicação global trouxe inimagináveis maravilhas. Partilhas imediatas de ensinamentos, denúncias e solidariedades. Mas permitiu também que saísse das cavernas uma realidade abjecta. Insultos, ameaças, ironias maldosas. Nunca, como hoje, a semente do ódio foi tão espalhada.
É sobre este pano de fundo que se conta a história de uma família. Três gerações a olhar para um futuro embriagado num estado de guerra. Uma família que esconde, enquanto puder, um segredo.
Jogos de Raiva traça duros retratos sem filtro sobre medos e remorsos, sobre o racismo, a depressão, a sexualidade, o jornalismo, a adopção, a arte e a amizade. E o poder das histórias.
É sobre a urgência da confiança, da identidade e do amor.
É um livro sobre todos nós, à deriva num novo mundo.
A opinião da Pequeno Caso Sério
A (minha) Sinopse:
Uma família que podia ser a minha. Ou a tua.
Segredos que a vida se encarrega de revelar...mesmo quando pensamos que jamais serão descobertos.
Remorsos. Esses sacanas que nos corroem .
Conflito de gerações.
Homossexualidade.
Deficiência. Ou diferença. Ou será lucidez?
Racismo.
O "Eu" que mostro ao mundo e o "Eu" que realmente sou.
Amizade enquanto forma mais pura de amor.
Um livro sobre gente que procura (desesperadamente) saber quem é.
A minha opinião
Rodrigo Guedes de Carvalho, jornalista, entra-nos casa adentro sem pedir licença. E não precisa. É da casa e os da casa não precisam de convite.
Rodrigo Guedes de Carvalho, romancista, entra-nos coração (e cabeça) adentro sem pedir licença. Chega. Instala-se. Fica. Por muito tempo. Mesmo quando o livro já acabou.
Faz-nos pensar. Refletir. Admitir que o que se passa nesta história nós também já fizemos/ dissemos. E por isso esta história se torna tão nossa.
Numa linguagem muito acessível, mas em que a escolha das palavras é feita com uma mestria irrepreensível, Rodrigo Guedes de Carvalho tece uma viciante história em que só lamentamos uma coisa: ter chegado ao fim.
E depois há a história dentro da história. Um “fantoche" absolutamente delicioso que me fez dar gargalhadas num hospital muitos decibéis acima do recomendável.
Tenho dois hábitos meio parvos em relação aos livros:
1- assino sempre a página com um determinado número.
2- uso um marcador fluorescente para sublinhar as passagens que mais me...tocam.
Digamos que este livro tem uma quantidade significativa de sublinhados. Deixo aqui alguns para abrir o apetite:
(...) Não há tabelas para as emoções. Há palavras, talvez, uns quantos adjetivos, mas falta a dimensão exata. Sim, tudo se pode medir, mas não a violência crua de uma discussão entre pessoas que se amam(...) é um mistério a violência de que são capazes as pessoas que se amam (...)
(...) as pessoas inteligentes e com sentido de humor caírem tantas vezes em buracos depressivos, onde são mordidos por fúrias e maldades e dúvidas paralisantes, talvez por pensarem muito sobre tudo (...)
(...) Não se pode encontrar a paz a evitar a vida (...) e os segredos têm sempre um problema: pesam muito.
(...) são ligações difíceis de explicar com exatidão, algumas pessoas são atraídas por outras, dão-se as mãos de olhos fechados mesmo longe uma da outra, gostam-se porque sim, entendem-se sem se escutar uma palavra (...)
(...) envolveram-se, julgaram amar-se, depois ficaram amigos muito fortes, que é também uma espécie de amor, pouca gente sabe ou admite isso.(...)
E por aí adiante que 'tarda nada estou a transcrever o livro todo e este livro merece ser lido na íntegra. Curiosos? Ainda bem. Era mesmo essa a intenção.
Classificação: de zero a cinco ? seis!
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