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Às vezes podes julgar um livro pelo filme

por Magda L Pais, em 17.08.17

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Lá em casa ninguém gosta de ver um filme ou uma série comigo se desconfiarem que já li o livro. Não consigo perceber porquê... talvez tenha a ver com o facto de passar o filme a arengar porque, na grande maioria dos casos, a história é completamente alterada e não é respeitado o livro.

Já se sabe, um livro é sempre mais completo. Mais perfeito. Mais livro. E é quase impossível passar para um filme toda essa perfeição. Mas às vezes consegue-se (era mesmo bom que a indústria cinematográfica aprendesse com estes exemplos):

O Quarto de Jack – as diferenças entre o livro e o filme são inevitáveis. O livro é narrado por uma criança de cinco anos e a angústia que sentimos resulta - em boa parte - dos pensamentos de Jack, da forma como ele vê o mundo. A menos que o filme fosse narrado (o que era capaz de se tornar uma grande seca), esses pensamentos não se conseguem traduzir em imagens. Ainda assim foi feito um excelente trabalho.

Milagre no Rio Hudson – um caso raro em que o livro e o filme se complementam na perfeição. O livro conta-nos a história de Sully, a pessoa certo no local certo, mostrando-nos como tudo o que se passou na vida de Sully foi essencial para que, naqueles três minutos e vinte e oito segundos, ele soubesse exactamente o que fazer para salvar as 155 pessoas que iam a bordo daquele avião. Já o filme foca o trabalho da comissão de inquérito e a tentativa que fizeram para provar que Sully tinha errado (como é possível terem pensado, nem que fosse por apenas uns segundos, que tinha havido ali erro se se salvaram todos os passageiros e tripulação?). Ambos - livro e filme - são importantes.

Viver depois de ti – um excelente livro que trata um tema polémico. A eutanásia. Um excelente filme, completamente fiel ao livro. São poucos os casos em que se pode dizer que o filme é o livro, mas este Viver depois de ti é, talvez, o mais fiel dos fieis, talvez em Ex aequo com os dois que se seguem.

Um Homem Chamado Ove – um dos livros mais ternurentos que já li, um livro que nos deixa - com humor q.b. - a pensar no dia-a-dia, nas coisas realmente importantes, em como mudamos - às vezes sem querer - a vida de quem nos rodeia e na importância que - mais uma vez, às vezes sem querer - temos na vida dos outros. E que os outros tem na nossa vida. E um filme exactamente igual, em que até os actores são, em quase tudo, tal e qual como os imaginamos enquanto líamos o livro. Óscar da melhor adaptação para aqui, por favor.

A Rapariga que Roubava Livros – outra fabulosa adaptação, em que nada falha em relação ao livro. A ternura que nos inspira o livro é rigorosamente a mesma que nos inspira o filme. Mesmo que tenha a morte como narrador.

E vocês, que outros casos conhecem em que a adaptação do livro ao cinema tenha corrido tão bem que eu posso ver o filme com a família?

O Quarto de Jack

por Magda L Pais, em 04.06.17

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O Quarto de Jack de Emma Donoghue

ISBN: 978-972-0-04343-6

Editado em 2016 pela Porto Editora

Sinopse

Original, poderoso e soberbo, Jack é inesquecível: a coragem e o imenso amor numa história perturbante contada pela voz da inocência.

Para Jack, de cinco anos, o quarto é o mundo todo. É onde ele e a Mamã comem, dormem, brincam e aprendem. Embora Jack não saiba, o sítio onde ele se sente completamente seguro e protegido, aquele quarto é também a prisão onde a mãe tem sido mantida contra a sua vontade. Contada na divertida e comovente voz de Jack, esta é uma história de um amor imenso que sobrevive a circunstâncias aterradoras, e da ligação umbilical que une mãe e filho.

O quarto é um lugar que nunca vai esquecer; o mundo é um sítio que nunca mais olhará da mesma maneira.

A minha opinião

Se quisesse definir este livro numa única palavra, seria angustia. Este é, sem dúvida alguma, um livro angustiante. Porque Jack é uma criança de cinco anos que não sabe o que sentir o sol na cara, o vento, que há outras crianças como ele. Não sabe o que é correr ou molhar-se à chuva. Nunca viu um escorrega ou um baloiço. Nunca subiu ou desceu umas escadas. Não conhece outras pessoas sem ser a sua mãe. E o Nick Mafarrico que aparece, no quarto onde Jack vive, de vez em quando, mas, mesmo assim, a ele só lhe conhece a voz porque tem de ficar fechado no Guarda Fato quando ele aparece. Para Jack, o mundo reduz-se a um pequeno quarto com uma pequena clarabóia, onde a única visão do resto do mundo é através da televisão. Para Jack, o mundo é aquele quarto.

Através dos olhos de Jack, vamos percebendo como o quarto - apesar de muito pequeno - é enorme. E como o mundo - fora do quarto - pode ser assustador para quem nunca o viu.

Angustiante.

Mas também ternurento porque a história é-nos narrada por uma criança, com toda a sua inocência e ternura, sem maldade ou malícia.

E depois, quando Jack e a mãe saem, finalmente, do quarto, a mesma ternura e inocência no relato do mundo lá fora. Que assusta mas, ao mesmo tempo, atrai.

Este é um livro que - tirando a parte da fuga - se degusta devagarinho, sem a ânsia de querer saber o fim, que pode ser lido calmamente, sem aquela necessidade de se chegar ao fim para saber como acaba. E é, acima de tudo, um livro que recomendo a todos, principalmente aos que se queixam do pouco que tem, para que percebam como se consegue, do pouco, fazer muito.

(leia aqui as primeiras páginas)



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