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O Escritor-fantasma de Zoran Živković
Editado em 2012 pela Cavalo de Ferro
ISBN: 9789896231651
Sinopse
Um escritor, em plena crise de inspiração, senta-se à sua secretária para dar início a mais um dia de trabalho. A sua única companhia é Félix, o seu gato, cujas constantes exigências lhe tornam a vida bastante complicada. Mas, nessa manhã, defronte ao computador, um outro acontecimento contribui para perturbar a sua tranquilidade. Na sua caixa de correio electrónico encontra uma proposta feita por um admirador secreto, que pretende que o escritor lhe ceda a autoria do seu novo romance. Entretanto, outras mensagens começam a chegar-lhe, provenientes de outros quatro correspondentes anónimos. Todas elas com pedidos igualmente intrigantes. À medida que vai aumentando o ritmo dos e-mails trocados, vai-se adensando o mistério à volta da identidade e das verdadeiras intenções de todos eles. Tudo isto sob o olhar indiferente e entediado de Félix. O leitor deste livro é convidado, através das pistas que o autor vai deixando, a montar o puzzle e a descobrir a solução final para a história. Zoran Živković, neste seu novo e divertido - por vezes hilariante - romance, revela as singularidades do mundo da escrita e dos escritores, conseguindo mais uma vez captar a atenção do leitor da primeira à última página.
A minha opinião
Zoran Živković continua a surpreender-me pela positiva, num intrincado labirinto que é este livro.
Um escritor com o síndroma da página branca - também conhecido por bloqueio ou falta de inspiração - começa a receber vários emails, o primeiro dum admirador secreto e os restantes de pessoas com quem se corresponde habitualmente. E se primeiro os emails são totalmente dispares entre si, aos poucos todos convergem para o mesmo tema, deixando o escritor baralhado, ao mesmo tempo que são deixadas pistas para o leitor perceber o que se passa.
Qualquer um dos livros que li deste autor prima pela complexidade das suas histórias, mas uma complexidade subtil, que nos leva a reflectir sobre o que realmente teremos lido depois de fechar as páginas. Porque não está tudo ali, às claras, há imensas entrelinhas que tornam as suas histórias ainda mais interessantes. E O Escritor-fantasma não é excepção.
Por fim, uma palavra para as histórias que envolvem Félix, o gato que o escritor adoptou e que, como qualquer gato, comete imensas tropelias e que trazem, para este livro, o humor a que o autor me começa a habituar (e que é delicioso).
A Biblioteca de Zoran Živković
Livro vencedor do prestigiado World Fantasy Award, A Biblioteca reúne seis histórias fantásticas ligadas à bibliofilia, fazendo-nos pensar em Jorge Luis Borges e na sua biblioteca infinita, mas também no universo de Kafka ou de Umberto Eco. No conto de abertura, um escritor descobre um site onde todos os seus livros, inclusive os que ainda não escreveu, se podem consultar; num outro, uma comum biblioteca transforma-se durante a noite num arquivo de almas; noutro, ainda, o Diabo decide estabelecer os níveis da literacia infernal...
A minha opinião
Creio que, aos poucos, a minha lista de autores que leio com prazer se está a expandir de dia para dia. Culpa, em parte, de ler vários blogs sobre livros, incluindo, claro está, o Planeta da Márcia que tem sido uma das maiores culpadas desse alargamento. Mas também da Fernanda Palmeira que participa na Roda dos Livros (se prezam o dinheiro dentro da carteira e, se tem pouco espaço nas estantes não vão a esses dois blogs!)
A primeira vez que ouvi falar n'A Biblioteca de Zoran Živković foi precisamente pela Márcia. Comprei-o na Feira do Livro em conjunto com O Livro tendo lido este último primeiro. Fiquei logo com vontade de ler A Biblioteca mas Os Últimos Dias dos Nossos Pais estavam ali a chamar-me e por isso intervalei.
A Biblioteca reúne seis bibliotecas diferentes, a virtual, a particular, a nocturna, a infernal, a minimal e, por fim, a requintada. Em todas elas o sonho de qualquer leitor compulsivo - qual de nós não quer uma biblioteca particular ou ser condenado a ler por toda a eternidade?
Toda a gente sabe que os livros devoram espaço sem qualquer piedade. E não existe defesa possível. Qualquer que seja o espaço que se lhes dê, nunca chega. Ocupam primeiro as paredes e depois continuam a espalhar-se por onde conseguirem. Apenas o tecto fica poupado. Chegam sempre uns novos, enquanto o dono não tem coragem para se livrar de nenhum dos velhos. E assim, devagar, sem dar nas vistas, volumes de livros empurram tudo à sua frente. Como glaciares.
Mas ao contrário dos glaciares que são frios e sem vida, todos os livros tem vida. A deles e de quem vive neles. Por isso como não haver uma biblioteca de arquivo das vidas de todos os que já habitaram o nosso planeta?
Mais uma vez, e tal como n'O Livro, A Biblioteca tem momentos de humor negro, de sátira e que nos levam a pensar.
E, mais uma vez, a aposta em novos autores continua a compensar-me. E muito.
Não é fácil ser um livro.Já é assim há muito tempo, mas, ultimamente, tem sido ainda mais difícil. Poderia dizer, com toda a justificação, que somos uma espécie ameaçada - à beira da extinção, na verdade. E, se tal acontecesse, seria uma perda incalculável porque não somos uma espécie comum.(...)Ninguém com um mínimo de inteligência pode negar que, além da humanidade, nós, os livros, somos os únicos seres inteligentes à face da Terra.
Tudo o que afirmámos acerca das bibliotecas e livrarias serem os cenários da nossa mais profunda humilhação é trivial quando comparado com o que temos dizer sobre as gráficas.
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